domingo, 14 de abril de 2013

O meu vizinho

Quando fiquei com a casa convidei-o e a um outro colega nosso a virem cá para opinar sobre a parte eléctrica e outros pormenores que não domino (nem quero). Ele apaixonou-se pela casa, pela vista, pelo bairro... e pediu-me para o avizar logo que ficasse outra casa disponível aqui na zona.

Ora, eis que um mês depois, um apartamento dois pisos abaixo do meu fica vago: avisei-o logo e numa semana ele já tinha a decisão tomada.

Não só vivemos no mesmo prédio, como trabalhamos na mesma empresa, o que inicialmente me assustou um pouco... mas a verdade é que é uma experiência fantástica. Graças a ele, desde que me mudei para aqui ainda não me senti só uma única vez, quanto mais não seja porque há sempre aquele consolo de saber que se o sentir basta-me descer a escada para um café ou dois dedos de conversa (como fazemos tantas vezes).

E depois, a verdade é que temos uma interacção fantástica. Sabe-me tão bem, nalgumas noites em que já saio tarde e cansado do mestrado receber aquela mensagem que diz: "Estava aqui a pensar que hoje deves cansado. Não te preocupes com o jantar que eu preparo aqui qualquer coisa para nós." Pela minha parte, também gosto de fazer o mesmo naqueles dias em que sei que ele fica a fazer serão ou que teve uma jornada mais complicada: acabo por me despachar mais cedo, comprar uns petiscos que saiba de que ele vai gostar e preparo-lhe eu o jantar.

E depois, claro que, sendo ele um gajo dinâmico e cheio de energia como eu, é o parceiro ideal para as corridas à beira-rio ou para os treinos. 

E ainda há os amigos: já o apresentei a grande parte dos meus amigos, que o adoram, e acabamos por passar serões para lá de divertidos à mesa. Quanto aos amigos dele, bem... digamos que têm sido uma surpresa fenomenal (opá, quem o manda ter amigos tão giros???): são pessoas com quem um gajo não consegue deixar de se rir.

Ah, e não: o vizinho e eu não nos enrolamos. A brincar, tratamo-nos por "marido" um ao outro e ele costuma dizer que até nisto somos casados: não há sexo, AHAHAHAHAHAH!

Para além disso, é quem trata do bricolage cá da casa (e só pela paciência que tem tido com essas minhas lides já merecia o prémio de melhor vizinho de sempre).

E é um gajo que tem sempre uma carta na manga: ou um restaurante fantástico ou uma exposição qualquer. Mesmo quando o quero supreender ele acaba por se lembrar de mais qualquer coisa. Ainda na semana passada lhe disse que no sábado íamos jantar os dois a um restaurante novo, por isso tinha que estar preparado às 21h00.

Às 20h50 ele manda-me uma mensagem: "Traz casaco quente: vamos de mota." E lá nos metemos os dois à maluca na A5 numa noite em que se lembrou de largar a chover. No restaurante, a RP engraçou connosco por nos termos aventurado de mota numa noite daquelas e o serão acabou por ser bastante divertido.

No regresso ele vinha a acelerar um pouco mais do que na viagem de ida e eu, que há uns largos anos não andava de mota, não receei un segundo pela minha segurança: agarrado a ele, sentia que a tudo ia correr bem.

Com ele, corre sempre.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Tudo labadinho

Como é evidente, esta nova fase não poderia estar isenta de precalços. As duas primeiras semanas foram passadas a meter coisas em prateleiras, compras mercearias e detergentes e toda uma panóplia de coisas completamente desinteressantes (ah, a descoberta do quão necessários são os paninhos amarelos absorventes para uma cozinha) e algumas limpezas (superficiais, confesso). Ainda assim, é incrível o nível de merda porcaria que a casa foi acumulando... digamos que enquanto caminhava pela casa já tentava não pontapear as milhentas bolas de cotão que se foram espalhando pelo chão fora.

Ora, o meu vizinho (a quem iremos - salvo seja - no próximo post) veio, uma vez mais, em meu auxílio e recomendou-me a prestadora de serviços domésticos que lhe higieniza a casa. Passei por casa dele (dois andares abaixo da minha) e convidei a Senhora a visitar o Palácio. Gostei logo dela: tem sangue frio suficiente para não largar a correr porta fora quando lhe mostrei o desafio que tinha pela frente.

E ela lá desempenhou a sua tarefa na passada terça-feira. Só vos digo que quando cheguei a casa fui de imediato acometido pela sensação de estranheza que atravessou a Dorothy quando percebeu que afinal aquilo não era o Kansas. A casa estava... limpa. Limpa, mesmo! Podia caminhar sem tropeçar no cotão, os utensílios da cozinha já não ficavam colados à bancada, a casa-de-banho cheirava a... aloe vera (?) e pude finalmente descobrir a verdadeira cor da TV.

Durante aquela noite, caros, foram várias as vezes em que despertei com um cheiro estranho, que de imediato inspirava profundamente. Era um cheiro estranho e novo naquela casa, que me dizia que novas aventuras e um futuro radioso se estendiam à minha frente.

O cheiro a limpo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Processo


Eu por acaso também acho que a Sofia Alves é uma bimbalhona do pior: e agora, será que também vou ser processado?

Ganhem juízo, senhoras.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Querido, mudei de casa (?)

Eu trabalho com os gajos mais malucos que pisam esta terra. Mesmo. São pessoas para lá de fantásticas, mas com um nível de loucura idêntico.

Se não vejamos: assim que terminei os exames do primeiro semestre do Mestrado, arregacei mangas e lancei-me às mudanças. Já tinha tudo mais ou menos planeado e sabia que o quarto tinha um espaço que estava mesmo a pedir um roupeiraço para os fatos, camisas e gravatas.

Tinha visto um no IKEA, mas a verdade é que me pareceu arriscado optar por eles: tive receio da qualidade, do que implica montar um roupeiro... enfim, esse tipo de coisas. Mas a verdade é que, analisados 300.000 modelos, fui-me apaixonar por um modelo deles.

Um bocado apreensivo, lá me dirigi ao antro sueco acompanhado da rapaziada para me ajudarem a carregar as peças para os carrinhos e deixar no serviço de entrega e montagem deles. Pelo caminho, eles começaram a dizer que o dinheiro da montagem era o dinheiro mais mal gasto porque eles podiam fazer e porque gostavam e porque não dava trabalho nenhum e por trinta por uma linha...

Eu expliquei-lhes que um roupeiro é uma coisa séria e que seria preferível ser feito por pessoas com experiência nisto, palavras estas que invocaram a indignação coletiva: de imediato comaçaram as piadas do género "ah e tal nós montamos antenas, radares e satélites, mas não montamos roupeiros do IKEA... isso nunca!", ou "claro, nós somos engenheiros com experiência de anos de montagem de equipamentos mas é melhor confiar no brasileiro ou no ucraniano que estão a fazer isto porque não há nada melhor". Enfim, depois de ser chingado com vinte mil deste tipo de piadas (e de ver que o preço da montagem dava para outro roupeiro) lá optei pela proposta da malta: os senhores do IKEA entregam e os super engenheiros montam.

Cinco tardes de bricolage, dois livros de reclamações (o interno e o da ASAE) e várias dores de cabeça depois, o raio do roupeiro lá ficou acabado. Giro como só ele. Mas tão complicadinho...

Lesson learned: não volto a trazer nada daquela chafarica sueca que não seja montado pelos próprios funcionários.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Adeus casa de meu pai"

Tem sido perfeito, e há-de continuar a ser, tenho fé.

Foram 31 anos maravilhosos. Filho mais novo acarinhado, desde sempre que me incentivaram a ser mais exigente comigo, a dar asas à imaginação e abriram-me novos mundos. Aos 18 anos quando entrei para a Faculdade, mandaram-me com o meu irmão atravessar o sul da Europa de barco, desde Istambul a Barcelona. Sempre puxaram por mim e tornaram-me sedento de mundo.

Talvez tenha sido essa sede louca que me prendeu a eles. Ao contrário de alguns amigos, nunca fez parte dos meus planos sair de casa para ir viver num sítio que tivesse que servir e onde tivesse que contar trocos até poder levar a vida desafogada que levava em casa dos Pais. Não. Optei por investir os meus 20 a fazer o que quis e me apeteceu em termos pessoais e profissionais, por forma a que quando me decidisse a mudar o fizesse com mundo dentro de mim e com um cargo que me permitisse continuar a viver uma vida leve.

Viagei pelo mundo fora, fiz amigos de todos os credos, profissões, nacionalidades e cores, saltei de um avião, tirei um curso de mergulho, um curso de História da Arte do Séc. XX, duas pós-graduações e (recentementente) comecei um Mestrado. Trabalhei numa pequena sociedade de advogados, numa grande sociedade de advogados, tive escritório próprio, fui assessor de um Ministério e finalmente cheguei onde estou hoje, que é um sítio onde nunca contei estar antes dos 40.

Estou feliz. Eles fizeram-me feliz. Mas acho que agora já é mais que pouca vergonha na cara continuar aqui... Deve ser esta coisa dos 30 que me força a sair (sim, que eu cá por mim, não fosse aquilo que a Sociedade espera de um gajo, ficava com eles a vida toda). Para além disso, a casa com que sempre sonhei está à espera, em Lisboa, debruçada sob o Tejo.

Esta é a última noite que aqui durmo. O meu dia com eles começou com umas compras de mais algumas coisas que ainda me faltavam e depois fomos ter com o meu ex e almoçámos os 4 no Spazio, para nos deliciarmos com a sopa de santola da Justa Nobre. Rimos, tagarelámos e depois ainda fomos até ao meu novo ninho ver como estavam as coisas (que - já agora - estão na fase "quase-a-deixar-de-parecer-um-estaleiro"): é esta cumplicidade que sempre me fez estar com todo o à-vontade junto deles.

Há minutos, estava a ultimar preparativos e o meu Pai deu-me um porta-chaves para as novas chaves. Fiquei emocionado... Para trás ficam as chaves de casa deles, com um porta-chaves velho que, por momentos, me recordou que há pessoas que nos potenciam os sonhos e outras que os tolhem. Mas que a Vida me tem demonstrado - por vezes de forma bem irónica - que as primeiras prevalecem... prevalecerão sempre.

O meu porta-chaves novo com as suas chaves é a prova disso.




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Arroz doce para desentupir

Diz que este ano, à semelhança do que costuma acontecer, a tribo reuniu-se para mais um périplo de fim-de-ano: desta vez o destino foi a Norte.

E é incrível como quando esta rapaziada se junta conseguimos estar a rir de manhã à noite: não há sossego para os músculos faciais, tal é a avalanche de disparates que se junta por ali.

Foi uma ocasião especial, porque me permitiu juntar os amigos de sempre com aqueles amigos tão especiais do Porto, o que resultou numa festa de arromba!

E por falar em arromba, não posso deixar de mencionar o marco desta passagem de ano: o arroz doce da M! Diz que a miúda, que é fã (nática) da Bimbe, se lembrou de fazer uma receita nova, que levava uma farinha qualquer. Estava tudo muito lindo, cheirava bem e eu tratei da decoração com o extremo bom gosto e requinte que me caracterizam (vide foto abaixo):



Sucede que após comer o dito (arroz doce, entenda-se), a rapaziada começou a acusar sinais de... mal-estar. Desde uma a vomitar a todos os restantes sentados na sanita e a deixar lá tudo até à alma, não faltou nada.

A M manteve-se firme a dizer que não podia ser do arroz doce, porque ela também o tinha comido e sentia-se bem. Nesta divisão de opiniões lá seguimos nós para os Aliados, com o objetivo de ver o fogo de artifício.

A 10 minutos da meia-noite estávamos nós numa transversal da Av. dos Aliados à porta de um café manhoso, com alguém a dizer "anda lá ó cagona, que vamos perder o fogo de artifício!"

Mas não perdemos. E foi fantástico. Nunca comecei um novo ano com uma tão grande sensação de leveza interior.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

13 anos depois

Quando fiz 18 anos ofereceram-me um "lovebird." Apaixonei-me pelo raio do bicho e levei-o comigo de férias... e bem, pode-se dizer que ele teve umas férias de morrer (literalmente).

Fiquei tão de rastos com o óbito que os meus pais acabaram por me comprar outro. Era verde, com uma cabeça vermelhona e cheio de energia. Curiosamente, era mau como as cobras e nunca lhe devem ter explicado que a raça dele tem a alcunha de "lovebird" porque supostamente são ternurentos e acasalam para a vida.



Era um vivo-diabo, que só estava bem a morder e a estragar, mas fazia-me rir tanto... teve dois companheiros em ocasiões distintas: um macho (nunca se sabe, não é?) e depois uma fêmea. Nunca se preocupou muito com estas companhias: apenas via nelas mais uma coisa para morder e não demonstrou nenhum sinal de tristeza quando uma e o outro morreram (é suposto eles criarem laços para vida e sobreviverem pouco tempo aos parceiros). Este cagou bem na cena.

E assim, esteve comigo 13 anos. Nos últimos tempos notava-se que estava mais calmo, já não voava quando lhe abria a gaiola e fazia menos barulho. Decidi que não o ia levar comigo para a casa nova porque em casa dos meus pais sempre continuaria mais acompanhado. Mudo-me dentro de uma semana e a decisão já estava tomada.

No entanto, ontem à noite a minha mãe - assim como quem não quer a coisa, entre um e outro assunto - conta-me que ao fim do dia ele tinha morrido. Fiquei meio sem saber o que dizer (não, desta vez não chorei baba e ranho) e ainda estou meio aparvalhado.

A uma semana de nos separarmos acabou por me deixar ele a mim.