Conhecemo-nos com 11 anos: ela era uma miúda bem mais inteligente que a maioria das crianças, com um sarcasmo fantástico e um sentido de humor genial. Foi amor à primeira vista: ficámos amigos e nunca mais nos largámos.
Íamos juntos de casa (era minha vizinha) para a escola, para a catequese, para a missa e para onde quer que tivéssemos que ir. Quando entrámos no Secundário seguimos rumos diferentes: eu segui para Humanidades, em busca do meu objetivo de ser advogado e ela seguiu para Ciências em busca de seguir qualquer objetivo que não fosse o que o pai tinha para ela.
Com horários diferentes, já não fazíamos tantos percursos casa/ escola juntos, mas a amizade ficou a mesma. Entrámos para a Faculdade e lá nos íamos encontrando de forma mais espaçada em festas de aniversários de um ou outro ou em convívios de amigos em comum.
No fim da Faculdade empenhei-me de corpo e alma na carreira que estava a começar, enquanto ela trilhava um caminho seguro e apaixonado pelo mundo da política. Nessa altura reaproximámo-nos, quando me tentou introduzir no meio, apesar de eu ter revelado pouca aptidão para essas lides. E mesmo em rumos diferentes a verdade é que me parece que dificilmente nos venhamos a separar.
Ela é a pessoa mais direta que conheço, o que me tem valido valentes vergonhas em ocasiões sociais quando faz perguntas daquelas-que-não-lembram-ao-camandro ou dá respostas desarmantes. Também é uma pessoa ultra segura e corajosa, características que acompanha com igual dose de loucura, o que continua a assustar-me, confesso. E, no entanto, no meio do tumulto de mulher que é, tem também dos melhores corações que Deus colocou na terra.
Se, por um lado, teve a diplomacia de me dizer que a melhor coisa que eu podia fazer era pôr fim ao namoro logo na primeira vez em que lhe falei da minha última cara-metade (sim, mesmo naquela fase em que estamos todos entusiasmados... é tão típico dela!), a verdade é que por outro lado, assim que soube que, tal como ela me tinha avisado, as coisas não funcionaram e eu estava completamente em baixo não abriu a boca com um "eu bem te avisei". Pelo contrário, telefonou-me e disse: "Este ano és tu o meu co-piloto na travessia por Marrocos. Eu quero ter companhia e tu precisas de te levantar."
E se ela tinha razão... entre dunas, tempestades de areia, noites no deserto, calor, frio, nevões, curvas, cascalho, gargalhadas, arranhões, conversas pela noite dentro e dores nas costas a verdade é que ela me trouxe de volta a Lisboa feito um novo homem.
Ora, no fim-de-semana passado, estávamos os dois a jantar no Bota Alta, ali no Bairro, quando ela inesperadamente (uma vez mais, tão típico!) abre a mala com um novo desafio (que desta vez não envolve uma caravana de jipes) e saca de um envelope que diz "PADRINHO"!
Uma vez mais o desafio foi aceite (com o coração bem cheio): parece que 2012 não acaba sem um novo casamento e uma nova afilhada (já daqui a 2 meses!!!).
Pessoas fantásticas que nos enchem o coração... como seríamos nós felizes sem elas?
1 comentário:
Amigos desses são fantásticos! Não sei quem tem mais sorte, se tu, se eles.
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