quarta-feira, 21 de março de 2012

Meia-noite... no louco início do séc. XX

Gostei bastante do "Meia-Noite em Paris", do W. Allen. Adorei a ideia da (uma vez mais) incessante busca pelo inalcançável, a permanente insatisfação, o fascínio pelas loucuras do passado, que consomem a personagem principal.

Todos nós temos períodos da História que nos despertam mais ou menos interesse, consoante determinadas características que lhes reconhecemos e com as quais geramos maior ou menor empatia. A minha brincadeira das terças-feiras tem-me proporcionado uma verdadeira viagem no tempo através de cores, formas, sonhos, loucuras e ousadias de inúmeros artistas e, sinceramente, tenho-me sentido fascinado pelo início do séc. XX, entre 1905 a finais dos anos 20... dizia-me um colega que esse fascínio deveria ser por ainda não termos ido mais além, porque cada década tem um encanto único quando contada por aquela Professora e acompanhada pelas inúmeras imagens que nos arrancam pequenos momentos de êxtase. 

Claro que já sabia algumas coisas, como, por exemplo, que em 1907 Picasso rasgava pessoas e cenários e desmontava-as em figuras geométricas (Cubismo)... e sempre me suscitou algum espanto pensar que isto acontecia numa época supostamente conservadora (sim, estamos a falar de 1907!). E desenganem-se, se pensam que isto só acontecia lá por fora... acreditem: o início do Séc. XX foi uma época de gente doida e ainda hoje vivenciamos muita dessa influência.

Na verdade, a "orginalidade" também se vivia neste cantinho lusitano (de forma menos generalizada, é certo). Se não vejamos, em plena 1ª Guerra Mundial, enquanto o País se contorcia em fome, medo, miséria e boatos sobre umas aparições para as bandas de Ourém, Almada Negreiros passeava uma galinha pintada de azul pelo Chiado, acompanhado do seu pequeno amigo Santa-Rita, vestidos nas suas indumentárias pouco convencionais.

(Almada e último grito da moda)

(G. Santa-Rita, um homem pouco quadrado)

E não se pense que a originalidade passeava apenas por Lisboa. Não vou dar o exemplo de Amadeu Souza-Cardoso, porque esse é por demais conhecido. Mas sabiam que para as bandas de Vila do Conde um casal seu amigo (Robert e Sónia Delaunay), que se tinha vindo juntar a ele e ao amigo Eduardo Viana, fugidos de França durante a 1ª Guerra Mundial,  aplicavam a sua imagem de marca (círculos cromáticos do cubismo órfico, do qual são os principais mentores) ao meio rural português, cujas cores o fascinaram?

(S. Delaunay, "Marché au Minho")   

Já agora, uma pequena curiosidade (para não me perder entre estas histórias deliciosas): este casal sui generis acabou por fugir de Portugal uma vez que se pensava que a correspondência que trocava com alguns dos seus amigos Portugueses (como Souza-Cardoso ou E. Viana) eram documentos de espionagem, considerando os códigos que a mesma continha (e que na verdade apenas se referiam a cores ou ideias para novas pinturas).

No extremo da Europa, na Rússia pós-revolução Bolchevique, também se criava com uma nova pujança, e aí nasceu o Construtivismos (e, posteriormente, o Suprematismo), caracterizado pela definição da arte como resultado de um processo construtor e produtivo, acessível e com utilidade prática. E desenganem-se se pensam que hoje o Mercado não lança mão de uma ideia tão antagónica ao espírito actual, para apelar ao nosso consumismo...

(Cartaz da autoria de Rodchencko, a partir da sua fotografia de Lily Brik, 1924)


(a bela da Lily fotografada pelo Rodchenko em 1924)


(E pronto, estes senhores não precisam de apresentação, pois não? É fantástico...)

(E o que me dizem desta campanha da Saks, inspirada por Rodchenko? O Senhor daria voltas na campa... ou não) 
  

3 comentários:

João Roque disse...

Gostava de estar nesse curso.

Backpacker disse...

Ele abre todos os anos... quem sabes se não estarás num próximo? ;)

um coelho disse...

É tão bom aprender coisas novas, que nos soam como música para os nossos ouvidos.