quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quando trazemos o mundo em vez de fotografias

Ontem estive a arrumar umas fotos de São Paulo e dei por mim a recordar-me de um jantar com uns amigos paulistas num restaurante onde fui convidado pela minha amiga de Curitiba... Eles foram incansáveis e acho que aquela estadia foram os únicos 7 dias seguidos de 2012 em que jantei em restaurantes fantásticos (e estupidamente caros, é um facto, mas como nunca paguei a conta acaba por ser tudo muito lindo).

Este ano, em termos de viagens, tem tido uma constante que adoro: viajar por minha conta e risco e contar com a ajuda de habitantes locais para conhecer melhor o destino (sim, sou avesso a agências de viagens)... foi assim em Bilbao, onde contámos com o Diretor da B., que foi um porreiraço e nos recomendou spots que tinham tanto de recôndito como de fantástico, pelo que dificilmente conseguiríamos lá ir no âmbito de um pacote turístico. Depois, em NY, o M. foi incansável a levar-nos a restaurantes, bares e discotecas do momento, e a recomendar-nos o que de melhor a Big Apple tem para oferecer (e se ele sabe...). E agora em São Paulo, creio que esta cidade apenas superou de forma estrondosa todas e quaisquer expetativas porque quando não fui orientado pelos colegas de lá, tinha a B. e os seus amigos a levarem-me ao que de melhor a cidade tem para oferecer.



(Mahayana Buddha - o maior Buda de NY, num templo recôndito em Chinatown)


(o "Txacoli de Atxala", um restaurante no alto das montanhas com uma vista soberba sobre Bilbao... lá dentro, o ambiente é o de um chalé, todo em pedra e madeira, com lareiras e muito bom vinho - Bilbao)


E esta é uma regra de ouro: ir e conhecer. Nada de ir para tirar a bela da foto e já está. É para conhecer MESMO, da forma mais próxima que conhece quem lá vive. Conhecer o que não é turístico, a fé, o dia-a-dia, as preocupações políticas e económicas, as tendências artísticas locais com menor projeção internacional...

Desde que me lembro que tem sido assim (o facto de ter um Pai cuja profissão é viajar abriu-me muito estes horizontes)... Recentemente, o maior exemplo disto foi o projeto da Viagem que sempre quis fazer: a Índia. Em 2009 agarrei numa mochila, no Lonely Planet, num bilhete de avião de ida e volta e no G., e fomos atravessar aquele subcontinente de comboio durante um mês sem qualquer reserva ou apoio de operadores turísticos (era tudo decidido no dia em que chegávamos a cada cidade). O resultado foi o esperado: a viagem de uma vida (e a certeza tão grande, quase visceral, de que lá tenho que voltar). E é por isso que me custa ouvir aquelas pessoas que foram uns dias ver o Taj Mahal e Jaipur falar de um país daqueles como se isso, por si só, fosse suficiente.



(não há agência que pague a possibilidade de viajar nas mesmas carruagens que os locais, comer com eles, beber com eles, dormir com eles - no bom sentido, claro... - Índia)

Por outro lado, também tenho tido experiências contrárias que me demonstram que de facto agências não é comigo... Quando em 2010 fui ao Quénia e Tanzânia, fi-lo por agências (sim, venderam-me a história do "ah e tal é muito perigoso e assustador e eles matam e tudo e tudo e com as agências não há imprevistos")... Pois. Graças à agência ficámos sem a mala que continha a maior parte da roupa para aí quase todo o tempo que estivemos no Quénia (sim, é uma coisa fantástica andar a fazer safaris o dia todo, suar como burros e ter uns 3 pares de cuecas e 2 t-shirts para gerir)... para além disso nem sequer vi a quinta da Karen Blixen (diz que não estava no pacote). E mais f&dido fiquei quando, meses mais tarde, conheço um rapaz num jantar que me disse que foi para o Quénia com o irmão sem qualquer pacote turístico, fizeram tudo o que eu tinha feito e ainda conseguiram ver a quinta da outra. Claro que ninguém me tira as cores, os cheiros e o céu de África... mas podia ter sido tão mais enriquecedor.



(as leoas de Mara Simba - Quénia)


Já em 2011, quando a I. me arrastou numa caravana de TT por Marrocos adentro a verdade é que levei um murro no estômago... o percurso não era turístico, tinha sido feito por malta das competições que queria era ir ao interior profundo do país e de preferências pelos trilhos mais arriscados. Eu estava à espera de trazer um feedback semelhante ao da malta que vai uma semana para Saidia, Marrakech ou Casablanca e trouxe algo bem diferente... uma noção de imensidão solene que só aquele deserto consegue transmitir, associada à segurança de conseguir superar-me a mim mesmo (sim, dormir num tapete com aranhas e escaravelhos numa tenda algures no deserto em plena tempestade de areia foi um teste... diferente).



(numa tempestade de areia em pleno deserto - Marrocos)


Viajar é isto. E estou muito feliz por 2012 me ter mantido neste rumo.

(all photos by Backpacker)

2 comentários:

João Roque disse...

Tenho acompanhado mais ou menos as tuas viagens e concordo inteiramente contigo.
Aquelas coisas muito turísticas já as conhecíamos antes de as conhecer e só muito raramente me inebriam; a excepção maior foi sem dúvida o David do Miguel Ângelo, na Academia de Florença onde volto sempre que volto à cidade do Arno.
Talvez por isso tenho adoptado um sistema de visitas de Lisboa e do país, ao Déjan que foge um pouco ao habitual, como o que fiz agora: ir para o Lumiar e Calçada de Carriche, descer a pé a Almirante Reis, andar nas ruas de prostituição do Cais do Sodré também é conhecer Lisboa, e ele tem adorado. Fotografa fachadas de edifícios, lojas pequenas, sítios castiços e gente, sobretudo gente...

Backpacker disse...

A gente semos por passear à solta!